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Terceira live do projeto Terças de Junho debate “Ciência, Ensino e a Pós-Graduação como alternativas à defesa da Vida”

Nesta última terça-feira, dia 16 de junho, aconteceu a terceira live do projeto Terças de Junho, que tem como tema “Ensino, Ciência e Cultura como Protagonismo Social”. O encontro desta semana teve como pauta central “Ciência, Ensino e a Pós-Graduação como alternativas à defesa da Vida”. A live foi mediada pelo professor Vladimyr Lombardo Jorge (DCS/ICHS/UFRRJ) e teve como debatedores os professores Marco Mitidiero (UFPB/ANPEGE), Alexandre Fortes (PROPPG/UFRRJ), Maria Carlotto (UFABC/ADUFABC) e a pesquisadora Flávia Calé (ANPG).

O projeto Terças de Junho é promovido pela parceria entre a Associação dos Docentes da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (ADUR-RJ), Associação dos Docentes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (AdUFRJ), Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e Associação Nacional Pela Formação dos Profissionais da Educação (ANFOPE). ⁣⁣A transmissão do evento acontece sempre no canal Imprensa ADUR-RJ no YouTube e permanece disponível mesmo após o encerramento da live.

O professor Vladimyr iniciou o debate explicando o propósito de discutir a ciência brasileira no cenário de estrangulamento não pela austeridade econômica, mas pelos redirecionamentos dos investimentos das políticas públicas.

Em sua fala, o professor Marco Antonio classificou que este é o período de maior ataque à ciência brasileira e pontuou que é urgente pensar como a conjuntura que se impõe explicita a crise no modo de produção capitalista. Ele acredita que a necropolítica se contrasta com a luta pela vida, esta última sendo a principal pauta de defesa dos movimentos sociais e da ciência. “Nós estamos vivendo na conjuntura do obscurantismo, do negacionismo, da pós-verdade e para isso imperar, os ataques são direcionados ao conhecimento científico, ao ensino em todos os seus níveis, à universidade e à pós-graduação”, afirmou o professor. Marco também descreveu como os ataques são diários e estruturais com direcionamento ao aspecto popular das escolas e público das universidades.

O professor Alexandre Fortes ressaltou a importância do movimento em defesa da vida dentro do campo da ciência e tecnologia. O professor apontou a gravidade do cenário brasileiro, onde as autoridades não têm seriedade no enfrentamento da pandemia e há uma série de impulsos para volta à normalidade sem nenhum embasamento científico que garanta a segurança das pessoas.

Fortes relembrou e exemplificou os duros ataques que a universidade pública vêm sofrendo desde a gestão Michel Temer, agravados com a guerra ideológica anticientificista do governo Bolsonaro, apesar de toda a contribuição que as instituições trazem e representam para o país. “O simples fato de congelar o orçamento já representaria um problema muito grande, como a exemplo da EC 95, que impôs essa camisa de força para todas as políticas sociais do Brasil. Mas isso se agrava muito mais com esse movimento de criminalização da atividade científica, hostilidade ideológica às universidades, cortes sucessivos e falta de critérios de transparência em relação à gestão dos recursos públicos”, afirmou ele.

A professora Maria Carlotto abordou o processo de ressignificação teórica da vida contextualizando os aspectos geopolíticos existentes em seu entorno e os efeitos causados pelas sucessivas crises do capitalismo. Carlotto explicou o conceito de “obsolescência das pessoas” como o processo de minimizar a importância dos indivíduos que representam o centro da força de trabalho e torná-los obsoletos sendo causado por movimentos como a financeirização do capitalismo, aprofundamento da mecanização e a marginalização de certas regiões na divisão internacional do trabalho.

De acordo com a professora, estes fenômenos de ordem política e econômica se manifestam internacionalmente, mas precisam ser contextualizados dentro do cenário brasileiro. Segundo ela, é preciso entender o projeto político vigente que trata o Brasil como uma economia de baixa complexidade em uma posição subalterna para entender  a crise da ciência, da tecnologia e dos sistemas de educação. “O sentido geral de democratização efetiva do ensino superior com a interiorização das universidades, a Lei de Cotas e com a expansão de vagas no sistema superior público são importantes para entender a dimensão da reversão de tendências que a gente passa a enxergar no Brasil a partir de 2016”, argumentou Carlotto.

A professora ainda destacou cinco pontos nos quais, segundo ela, os ataques ao sistema educacional estão sendo desenhados: o ajuste estrutural representado principalmente pela PEC do Teto; a padronização e rebaixamento dos currículos; as diferentes formas de censuras e intervenções, como as MPs que atacam a autonomia universitária e os projetos Escolas Sem Partido; as privatizações internas das instituições de ensino superior, como o Future-se e a elitização do ensino superior público.

A pesquisadora Flávia Calé comentou sobre como a pandemia trouxe uma nova forma da sociedade enxergar as universidades e produção de ciência. De acordo com ela, a pós-graduação, que produz 90% da pesquisa científica no Brasil, tem a chave para a superação deste momento, o que tem se tornado cada vez mais evidente. “Temos um governo que, na contramão dos governos de todo o mundo, decidiu não enfrentar a pandemia, pelo contrário, se utiliza deste momento para conseguir dar curso ao seu programa de destruição. Enquanto isso, as instituições brasileiras têm reagido, como as universidades e outras instituições de pesquisa, cumprindo o seu papel, apesar do governo”, declarou Calé.

Calé apontou ainda como o governo se utiliza de instrumentos para promoção de caos através de uma guerra cultural-ideológica colocando professores, estudantes, pesquisadores e cientistas como inimigos internos. “As últimas medidas que foram tomadas em relação à pós-graduação, como o modelo de distribuição de bolsas e a Portaria 34, representam enfraquecimento e redução da complexidade da pós-graduação e do papel regional que os programas cumprem à uma nota e uma elitização do processo de produção de pesquisa no Brasil”, afirmou a pesquisadora.

A discussão da mesa apontou para a importância da relação entre ensino superior, desenvolvimento e tecnologia e do papel da educação na produção de conhecimento científico como base de sustentação para unir diversos setores da sociedade no combate ao autoritarismo, ao fascismo e em defesa da vida e da democracia.


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